Cesário Verde (1855-1886) viveu a sua infância na casa da família, em Linda-a-Pastora, onde se refugiou para dar largas à paixão da sua vida: escrever Poesia. Foi nesta povoação que integra o território da União de Freguesias das Carnaxide e Queijas, que o poeta, precursor do Modernismo e um opositor ao lirismo tradicional reinante até então, escreveu muitas das suas principais obras sentado a uma secretária que pertenceu a Almeida Garrett.
Corria o ano de 1797 quando João Baptista Verde, tio- avô do poeta, e o seu irmão António José Verde, avô de Cesário, adquiriram a Quinta de São Domingos, no Vale do Jamor, a um padre. A casa de família foi apetrechada e decorada com objetos de valor, nomeadamente mobiliário de ‘boa linhagem’ (referem as crónicas), telas de mestres da pintura com paisagens idílicas, desenhos do pintor António Domingos de Sequeira, livros, muitos, manuscritos, retratos e outras recordações.
Foi nesta quinta de Linda-a-Pastora que a família do poeta se refugiou quando a cólera assolou Lisboa em 1856, contando beneficiar dos ares sadios da região contra o avanço da doença. A paisagem em redor foi sempre uma fonte de inspiração para Cesário Verde nos seus poemas. Em 1919, um incêndio que destruiu uma ala da casa queimou os livros do poeta, desenhos de António Domingos de Sequeira e muitas obras bibliográficas e artísticas reunidas ao longo dos anos pela família. No final da vida, Cesário Verde acabaria por morrer numa outra casa, onde tinha a sua residência, no Largo de São Sebastião (Lumiar), em Lisboa. O calendário marcava o dia de 19 de julho 1886 e o poeta natural de Caneças contava apenas 31 anos. Foi vítima de tuberculose, doença de que padecia desde 1877. Este edifício, construído no século XIX, foi classificado em 1997 no âmbito do Conjunto do Paço do Lumiar. Na fachada ostenta uma placa a assinalar o primeiro centenário da morte do poeta.
Entre os poemas assinados por Cesário Verde, figuram ‘O Sentimento dum Ocidental’, ‘Nós’, ‘Num Bairro Moderno’, ‘De Tarde’, ‘A Débil’, ‘Cristalizações’, ‘Contrariedades’, ‘De Tarde’ e outros, integrados na sua única obra póstuma, intitulada ‘O Livro de Cesário Verde’, uma coletânea de poemas editada após a sua morte, em 1887. Vinte e sete anos mais tarde, outro grande poeta português, Fernando Pessoa (1888-1935), figura central do Modernismo português, haveria de se referir a ele como ‘Mestre’ e refletir esta influência na sua obra poética.
“Ah o crepúsculo, o cair da noite, o acender das luzes nas grandes cidades / E a mão de mistério que abafa o bulício, / E o cansaço de tudo em nós que nos corrompe / Para uma sensação exata e precisa e ativa da Vida! / Cada rua é um canal de uma Veneza de tédios / E que misterioso o fundo unânime das ruas, / Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre, / Ó do ‘Sentimento de um Ocidental’!”, escreveu Pessoa a abrir o segundo dos seus ‘Dois excertos de odes (Fins de duas odes, naturalmente)’, assinados com o heterónimo Álvaro de Campos, em 30 de junho de 1914.