Tomás António Ribeiro Ferreira (1831-1901) é um nome que está muito presente em torno da construção do Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, em Linda-a-Pastora, de que era um devoto seguidor. O advogado, poeta, escritor e jornalista, que atingiu uma posição de grande influência na vida política portuguesa, que o levou a integrar vários elencos governamentais, marca uma presença de destaque nesta obra religiosa inaugurada em 1893 com pompa e circunstância.
Logo ao lado do Santuário, a Av. Tomás Ribeiro (Thomaz Ribeiro, à época) é disso um exemplo. Bem próximo da entrada para o parque do templo religioso, encontra-se a Ponte da Nossa Senhora da Rocha, que assegura a ligação rodoviária entre Linda-a-Pastora e Carnaxide. A meio da travessia sobre o rio Jamor, foi colocada uma placa com uma singela homenagem àquele que foi Ministro das Obras Públicas entre novembro de 1885 e fevereiro de 1886 e entre outubro de 1890 e maio de 1891.
“Sendo Ministro das Obras Públicas o Conselheiro Thomaz A. Ribeiro Ferreira se construiu esta estrada no anno de 1885”, assinala a placa em pedra, colocada bem próximo da entrada para o Santuário, no parque do qual conta com outra homenagem, datada de Maio de 1972, prestada pela Câmara de Oeiras e pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, na forma de um busto, na base no qual pode ler-se: “Ao grão Thomaz Ribeiro Poeta e Conselheiro E deste Santuário O principal obreiro”.
Órfã da imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, que tinha sido transferida para a Sé Patriarcal de Lisboa em agosto de 1822, três meses depois de ter sido encontrada na Gruta da Aparição, a mando do rei D. João VI, a população de Linda-a-Pastora acabou por contar com a preciosa ajuda de Tomás Ribeiro para reaver a milagrosa imagem de Nossa Senhora, que regressou finalmente a ‘casa’ volvidos 71 anos, depois de uma passagem por Carnaxide.
RESPONSÁVEL PELO REGRESSO DA IMAGEM
Foi Tomás Ribeiro, homem de fé vincada e com notória influência na vida pública, que, ao passar umas férias de Verão em Carnaxide, tomou conhecimento da tristeza em que vivia o povo por lhe terem tirado a Imagem de Nossa Senhora descoberta a 31 de maio de 1822. Foi a sua influência e esforços que conseguiram que a pequena Imagem da Virgem fosse devolvida ao povo. Depois do resgate da capital, em 1883, foi preciso aguardar mais dez anos para o Santuário ficar concluído e poder recebê-la.
Para conseguir assegurar a construção do templo mariano na localidade de Linda-a-Pastora e o regresso da Imagem a ‘casa’, Tomás Ribeiro contou com o apoio do rei D. Luís I (1838-1889), também ele um fiel defensor desta causa, que acabou por fundar e ser o juiz da primeira Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, da qual também o poeta e político acabou por fazer parte.
Natural de Parada de Gonta (Tondela, Viseu), Tomás Ribeiro, foi um membro destacado do Partido Regenerador e um orador fluente nas câmaras de Deputados e dos Pares do Reino. Além de deputado e Ministro das Obras Públicas, também exerceu os cargos de ministro do Reino, ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, ministro da Marinha, Governador-Civil dos distritos do Porto e de Bragança, secretário-geral do Governo da Índia Portuguesa e embaixador de Portugal no Brasil. Em 1882, adquiriu o palacete da Quinta da Casa Branca, em Carnaxide, onde viveu e recebeu o rei D. Luís I.
No domínio da Cultura, desenvolveu um papel notável como historiador, crítico, poeta, escritor e autor de peças de Teatro, algumas das quais representadas no Teatro D. Maria II. Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e mereceu também destaque o seu desempenho como jornalista, carreira durante a qual fundou os semanários ‘República’, ‘O Imparcial’ e ‘A Opinião’ e colaborou em inúmeras outras publicações, entre as quais ‘Artes e Letras’, ‘Mensageiro’, ‘Gazeta Comercial’ e ‘Revista Contemporânea’. Entre as muitas obras que assinou, contam-se: ‘O Mensageiro de Fez’, ‘Dom Jaime’, ‘Delfina do Mal’ e ‘A Mãe do Enjeitado’.
À Senhora da Rocha dedicou vários escritos. Aqui fica o excerto de um deles, publicado em 1898: “A Rocha vive entre os meus amores. Esta devoção que se esconde aqui no fundo desta concha florida e esmaltada, na sua ermida singela e cariciosa com a sua fonte cristalina, a sua gruta misteriosa, o seu rio murmuro e transparente, o seu jardim que ajudei a cultivar, onde tantas vezes passeei, longe do bulício das multidões, conversando com o jardineiro e com as flores, sondando os segredos daquele morto guardado pela Imagem da Virgem-Mãe, longe d’olhos que não espreitassem rindo, levo eu no coração... À Senhora da Rocha consagro estes versos”.