O Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, no vale do Jamor, em Linda-a-Pastora, está a pouco mais de um ano de festejar uma data muito importante na sua História. A 31 de maio de 2022, assinalará o segundo centenário sobre a aparição de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal numa gruta junto ao rio Jamor.
A História deste local de eleição, que já ombreou no passado com outros grandes santuários portugueses, como Fátima, Braga e Sameiro como destino de romagem de milhares de fiéis, começou a 28 de maio de 1822, quando um grupo de rapazes que brincava na margem direita do rio Jamor, na altura um canal navegável, perseguia um coelho que se refugiu num buraco.
Ao tentarem desobstruir o buraco, os jovens acabaram por descobrir uma gruta onde encontraram ossadas humanas. Após a remoção destas, o local foi selado durante três dias. Foi a 31 de maio que, ao entrarem na gruta, as autoridades descobriram uma passagem para uma segunda galeria, onde depararam com uma pequena imagem em terracota reconhecida como sendo de Nossa Senhora da Conceição.
Ao nome da Santa Padroeira de Portugal, o povo acrescentou a referência ‘da Rocha’ como forma de associação ao local, ‘Casal da Rocha’, onde a imagem, com cerca de dez centímetros de altura, tinha sido encontrada coberta com um manto de seda já apodrecido. A descoberta foi rapidamente divulgada, o que atraiu muita gente ao local para ver a Gruta da Aparição e prestar culto à imagem encontrada. “Na Rocha, formou-se a lenda do aparecimento de uma imagem numa pequena gruta, que alli se encontrava, correndo logo a beata tradição de milagre. Foram uns rapazitos, que em 1822 por alli corriam em perseguição de uns coelhos, os que fizeram o achado da imagem, origem das milagrosas e crendeiras lendas”, assinala o autor de um artigo publicado na edição de Agosto de 1910 do ‘Magazine Mensal Illustrado Serões’.
Com as lutas pela Implantação da República (5 de outubro de 1910) a decorrerem e o fim da Monarquia próximo do desfecho que mudou o regime, Victor Ribeiro, autor do artigo intitulado ‘Arredores Pittorescos de Lisboa’, refere ainda que: “O Clero ganancioso chamou logo a devota imagem para a Sé, na mira de attrair a romaria e as esmolas dos fieis, conseguindo que a gruta fosse tapada a pedra e cal”. Mais à frente, o autor do artigo refere que “O espirito de D. Pedro V, propenso a estas devoções de fé catholica, prometteu logo reconduzir para alli a imagem raptada pela clerezia da Sé”, acrescentando que o rei “não poude cumprir, porque a morte ceifou precocemente” a sua existência “tão promettedora para os destinos da nação”, sendo necessário esperar que “o poeta Thomaz Ribeiro” promovesse a edificação do santuário.
REGRESSO A ‘CASA’ 71 ANOS DEPOIS
Segundo os registos da época, terá sido o rei D. João VI (1767-1826), com a justificação de que o lugar não reunia as condições necessárias para prestar um culto digno, que mandou trasladar a imagem para a Sé Patriarcal de Lisboa, em agosto de 1822, onde acabou por se manter até 20 de agosto de 1883, até ser novamente trasladada, desta vez para a Igreja Paroquial de São Romão de Carnaxide.
Foi preciso aguardar até maio de 1893 para que a imagem pudesse regressar definitivamente ao local onde tinha sido encontrada, após ter sido concluída a construção do Santuário de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, instalado directamente por cima da Gruta da Aparição, onde a imagem foi encontrada em maio de 1822.
O templo, propriedade da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, é da autoria do arquitecto José da Costa Sequeira e foi construído entre 1830 e 1892. A cerimónia de inauguração, em 1893, teve a presença da rainha D. Amélia e dos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel, bem como de Hintze Ribeiro, Presidente do Conselho, entre outras figuras de relevo