A figura típica da Lavadeira está historicamente associada ao rio Jamor, um canal navegável no passado, por onde corriam em direção ao Tejo “águas límpidas e frescas” com origem na Serra da Carregueira (Sintra). Um levantamento eclesiástico do século XIX (1865), da autoria do Padre Francisco da Silva Figueira, dava conta desta atividade, contabilizando as mulheres que a ela se dedicavam. No total, seriam 191, distribuídas pelas seguintes localidades: Linda-a-Pastora – 44, Carnaxide – 43, Algés – 40, Queijas – 16, Linda-a- Velha – 14, Outurela – 12, Praias – 10, Portela – 2 e dispersas - 10.
Assinalando a histórica ligação do rio Jamor às Lavadeiras da região, Branca de Gonta Colaço (1880- 1945) e Maria Archer (1899-1982), no livro de crónicas ‘Memórias da Linha de Cascais’, editado pela Parceria António Maria Pereira em 1943, referem-se aquele curso de água como um “rio de Lavadeiras”. Já antes, o poeta António Gomes Leal (1848-1921) assinalava a presença constante das Lavadeiras nas proximidades de Carnaxide, referindo que “labutavam no Jamor na lavagem das roupas de grande número de famílias de Lisboa”.
Em Outubro de 1945, José Dias Sanches (1903-1972) escrevia na página 207 do número 32 da revista ‘Olisipo’, num artigo intitulado ‘O Pôrto de Lisboa Através dos Séculos’: “Se seguirmos com a vista para os lados da barra do Tejo vemos ainda o rio Jamor, o rio das Lavadeiras, o rio campesino, serpenteando as viçosas hortas e os verdejantes pomares”. O mesmo autor dava conta de que as “Lavadoras dos arredores embranqueciam a roupa” nas margens do rio, sendo testemunhável a sua azáfama a partir das pontes que cruzavam o Jamor.
TÍPICA FIGURA SALOIA
As Lavadeiras eram uma típica figura saloia. Estas mulheres, que lavavam as roupas das famílias mais endinheiradas de Lisboa em ribeiros, rios e tanques existentes nas localidades em torno da capital, tinham nesta atividade uma forma de sustento que permitia reforçar o orçamento familiar, a par dos trabalhos rurais em que também participavam. No final do século XIX, era habitual deslocarem-se a pé com as trouxas de roupa à cabeça, ou usando burros e mulas para transportarem a roupa lavada e recolherem a roupa suja dos clientes.
A atividade de Lavadeira assumia uma importância relevante no tecido social da época, reunindo, em muitas localidades, um maior número de trabalhadoras comparativamente, por exemplo, com as criadas de servir e as costureiras, duas das profissões mais procuradas. Apesar de mal pago e difícil de executar, o trabalho de Lavadeira representava uma ajuda vital para agregados familiares com poucas posses. Esta necessidade levava a que muitas mulheres mantivessem esta atividade desde a juventude até à velhice.
A mais popular canção inspirada pelas Lavadeiras é ‘Aldeia da Roupa Branca’, popularizada por Beatriz Costa na longa metragem com o mesmo nome, rodada em 1939.